18 anos e máscaras de oxigênio

Muitos de vocês devem ter acompanhado aqui no blog algumas reflexões que fiz ao completar dezoito anos e como deixei claro que era desanimador não sentir "mudanças". É que ao sair dos dezessete para os dezoito, mesmo irracionalmente, sempre há aquela espera pela meia-noite, onde talvez um 'clique' nos surpreenda, um segundo se passe e, magicamente, algo nos transforme, algo nos faça sentir: "é, 18 anos." Porém, obviamente, não é assim. Aliás, não é exatamente assim, mas não quer dizer que não seja possível. Três meses após meu aniversário, encontrei o meu clique, é algo tão simples, banal até. E não sei o quê, mas algo mudou em mim. 

O momento do clique? Quando peguei minha bagagem de mão, me despedi da minha mãe e fui para a sala de embarque do aeroporto, um mês atrás. Eu já fiz isso antes, aos 16, mas tentem entender: não sei como, algo era diferente. Eu não era mais a adolescente que precisaria da ajuda do funcionário da empresa aérea para chegar ao avião. Eu era, ao menos aos olhos dos estranhos entediados que ali estavam, uma "adulta" passando no detector de metais, uma adulta lendo atentamente as placas em busca do portão I, uma adulta descendo várias escadas rolantes, uma adulta séria esperando o ônibus que a levaria ao avião... eu era uma adulta qualquer, em um dia qualquer de adultos, disfarçando a simples felicidade de finalmente conseguir o assento ao lado da janela.

Não, eu não estava saindo de casa ou indo para outro país. Eu estava indo passar um mês de férias na casa do meu pai, em São Paulo, mas não deixem a magia da coisa morrer por isso, peço. Pois foram durante aquelas três horas de voo que eu finalmente percebi: "é, sou eu por eu mesma agora. Se tivermos que usar máscaras de oxigênio, nenhum adulto ou responsável terá que se preocupar se eu vou ou não conseguir colocar a minha." É estranho.

Na verdade, enquanto eu estava lá no alto eu pensei um pouco além das máscaras de oxigênio. Pensei em como eu sou feliz e aterrorizada ao mesmo tempo pelo fato de em poucos mais de três meses estar iniciando a faculdade com que tanto sonhei, assumindo responsabilidades totalmente desconhecidas mudando de cidade... Coisas que não têm importância nenhuma para muita gente, mas têm para outro tanto.

Enfim, se você chegou até aqui, sobrevivendo ao desencanto da minha inicial vida adulta e às máscaras de oxigênio do terceiro parágrafo.... o que eu realmente quero dizer não é nada novo: a vida não é a prateleira de livros que a gente cuida, organiza e mantem perfeitamente sob controle. Não é um filme de sessão da tarde com começo, meio e fim que já vimos e achamos saber exatamente o que vai acontecer. Nada disso. Ela é sempre algo mais. Algo menos. Algo ainda indefinido. E, sem dúvidas, algo em lenta e constante construção. Não dá pra ditar ou adivinhar o seu ritmo e sua maneira, o que vai ou não acontecer, quando, como ou onde. Porque tudo se trata do tempo e, meu bem, ele não é nada linear ou racional. O tempo do corpo não é o mesmo da mente. E isso é tão verdade que só fiz dezoito anos três meses após meu aniversário. 

Vai entender.