"O medo lhe mantém veloz"

Em uma noite de pesadelos com minha cama velha, no auge de meus 8 anos, um velho Doutor viajante do tempo me contou baixinho algo que ele também escutou baixinho enquanto sentia medo. E suas palavras tão profundas invadiram meus pensamentos como uma música alta toma conta de uma casa: estremecendo seus pilares, acordando-a. Ele falava sobre o medo.

"Sei que você está com medo, mas tudo bem sentir medo. Nunca te disseram? Medo é um superpoder. O medo pode te fazer mais veloz, inteligente e forte."

Primeiramente eu pensei não entender, mas ele tinha a confiança de quem não só falava, mas vivia aquilo. O rosto rude se manteve, mas no fundo senti resquícios de seu passado aflorando. Ele sentia aquelas verdades e também causava isso em mim.

"Você sempre terá medo, mesmo que aprenda a esconder o medo é como um companheiro, um companheiro constante, que está sempre ali."

Naquela noite, quando ele partiu em sua cabine azul e mágica, adormeci enquanto sentia meus medos, mas agora eu sabia que eles só existiam porque eu existia. Eu fazia parte deles e eles de mim.

Hoje, tanto tempo depois, o que pode haver sob minha cama velha ainda amedronta jovenzinha que já fui, mas agora compreendo: medo pode ser seu maior freio ou seu mais forte combustível. Pode te paralisar, fazer com que se arrepiei profundamente ou pode impedir que você dê as costas e simplesmente fuja, te impulsionando para a luta mais importante da sua vida: contra ele próprio. Mesmo que seja o medo do que se esconde abaixo da sua cama. E apesar de difícil, é sábio lembrar:

 "O medo faz companhia a todos nós."

Confuso ao extremo, eu sei, mas eu precisava disso.

Inspiração: Doctor Who, ep. 4, 8ª temp.